Startup coloca melhor idade para trabalhar no Itaú e na Dengo Chocolates
19/02/2020 - Revista Pequenas Empresas Grandes NegóciosO Brasil tem a quinta maior população idosa do mundo. Em apenas dez anos, o número de pessoas da terceira idade ultrapassará o de crianças até 14 anos de idade. Uma startup já está de olho em um desafio que virá com o envelhecimento dos brasileiros: a recolocação desses profissionais no mercado de trabalho – e com cargos dignos de seu intelecto.
A Labora é uma startup da área de recursos humanos focada na contratação do público com mais de 50 anos de idade. A HRtech já tem 2.500 profissionais seniores cadastrados e conectou profissionais a empresas como Dengo Chocolates e Itaú Unibanco. Para este ano, a negociação de um novo investimento poderá multiplicar o número de cadastros em dez vezes.
Ideia de negócio: recrutamento de idosos
A Labora foi fundada pelo especialista em longevidade e empreendedor social Sergio Serapião e tem como sócio-investidor Fernando Shayer, que foi sócio da Tarpon Investimentos e presidente do grupo Somos Educação.
Serapião criou há cinco anos o LAB 60+, um movimento para encarar o envelhecimento de forma mais positiva. “Há um medo de instabilidade financeira, de falta de saúde e de isolamento. Tais problemas costumam ser tratados individualmente. Mas o trabalho poderia ser uma solução universal: gera renda, qualidade de vida e integração social”, diz Serapião a Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
O embrião da Labora estava no próprio LAB 60+. O empreendedor social já havia colocado profissionais seniores nas empresas e verificado resultados positivos. “Há uma criatividade madura. As empresas pensam diferente a partir das experiências múltiplas que convivem nas pessoas de maior idade”, afirma Serapião.
Como funciona a Labora?
A Labora busca criar cargos que levem em conta o potencial dos idosos, mas também limitações como deslocamento e jornada de trabalho.
“Queremos respeitar o idoso, dando cargos que realmente atendem à demanda do mercado e são considerados profissões do futuro”, diz Serapião. Inteligência relacional e capacidade de escuta estão entre habilidades mais comuns aos profissionais dessa faixa etária, segundo o empreendedor.
A maioria das vagas é para vendedores humanizados em lojas físicas. Enquanto o comércio eletrônico cuida das compras rápidas e convenientes, a unidade de rua ou shopping center se torna cada vez mais um espaço para experiências. A Labora também trabalha para criar vagas em desenvolvimento de tecnologia em startups, especialmente para quem têm um público-alvo com maior idade.
Cerca de 2.500 idosos já se cadastraram na plataforma, lançada em outubro de 2019. Os selecionados passam por um treinamento pré-operacional e dizem quais dias e horários querem trabalhar. Com os dados, a Labora aloca os trabalhadores nas empresas.
Cerca de três candidatos por vaga passam pela capacitação, para garantir que a jornada de trabalho seja preenchida. A cada 15 dias, a Labora refaz todo esse processo.
Além da contratação, a Labora mede o desempenho dos idosos no trabalho. Os empregados fazem autoavaliação de performance e de saúde. A startup também informa às empresas o cumprimento de indicadores pré-definidos, como fechamento de negócios.
A Labora realizou projetos pilotos em 16 agências do Itaú Unibanco. Os profissionais seniores ficam responsáveis pelo atendimento dos clientes, com foco em acolhimento e redução do medo ao realizar operações online.
Também colocou funcionários da melhor idade em três lojas da Dengo Chocolates, marca fundada pelo sócio da Natura Guilherme Leal. Os idosos ficam responsáveis por um atendimento com foco em acolhimento e transmissão dos valores da marca.
Próximos passos
A Labora começou com um aporte de R$ 5 milhões dos sócios. A startup negocia um novo investimento no segundo semestre de 2020.
O objetivo é terminar o ano com 25 mil pessoas cadastradas. A Labora também busca expandir os pilotos e obter mais empresas parceiras. “Algumas empresas se preocupam com a diversidade e têm consciência social. Mas ainda vivemos um despertar recente para a diversidade geracional”, afirma Serapião.
“Nós propomos que 15% da força de trabalho venha de pessoas com mais de 50 anos de idade. Para cumprir essa missão, temos de ver os desafios pelos quais essas empresas passam, focar naqueles mais estratégicos e pensar em como solucioná-los a partir das competências dos profissionais seniores.”