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Exercícios regulares previnem agravamento da Covid-19

12/05/2021 - Globo Esporte

Novo estudo americano, publicado no British Journal of Sports Medicine, concluiu que pessoas sedentárias estão muito mais propensas a ter agravamentos da Covid-19, serem hospitalizadas e até morrerem do que pessoas fisicamente ativas. Ou seja, o exercício físico regular pode ajudar a proteger contra as formas mais graves da doença. No final do ano passado, um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros já tinha apontado que a prática de atividades físicas pode reduzir em 34,3% a prevalência de hospitalizações por Covid-19, desde que essas atividades sejam feitas em intensidade suficiente. Pensando em explicar a importância da atividade física para o sistema imunológico e para a saúde em geral, o Eu Atleta conversou com o médico infectologista Antônio Bandeira e o médico do esporte Ricardo Oliveira.

O estudo

 

Um grupo de pesquisadores da Califórnia acompanhou cerca de 50 mil pacientes que tiveram diagnóstico de Covid-19 no ano de 2020 e avaliou o registro da quantidade de atividade física que eles faziam. Dessa forma, os cientistas analisaram se o nível de atividade física prévia desses indivíduos tinha alguma relação com a forma mais ou menos grave da Covid-19. A partir desses dados, o estudo encontrou uma associação inversa entre nível de atividade física e gravidade da doença. Ou seja, quanto mais baixo o nível de atividade física, maior a gravidade da Covid-19, inclusive com mais taxas de internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

- Em relação à mensagem principal deste estudo recém-publicado, é válido ressaltar que ele aponta para que a atividade física consistente, ou seja, ter pelo menos 30 minutos de atividade física por dia, por pelo menos cinco dias (150 minutos semanais), parâmetro da Organização Mundial da Saúde (OMS) para sair da faixa do sedentarismo, reduz a incidência das formas mais graves da Covid-19, reduzindo o número de hospitalizações e até a taxa de mortalidade pela doença - destaca Antônio Bandeira.

 

Exercício, imunidade e Covid-19

O exercício físico é uma das melhores formas de prevenir e controlar complicações advindas de doenças, incluindo à Covid-19 — Foto: Divulgação Getty Images.

De acordo com Ricardo Oliveira, uma série de estudos aponta que a atividade física, quando praticada em determinada intensidade e volume, pode promover a melhora do sistema imunológico. Algumas pesquisas apontam uma relação em U (curva) entre nível de atividade física e risco de infecção; ou seja, quem faz muito pouco exercício físico, como os sedentários, tem o maior risco de infecção, bem como aqueles que praticam atividade física em demasia também têm maior risco de infecção. Porém, uma prática regular e moderada de atividade física reduz o risco de infecção, tanto as respiratórias quanto as gastrointestinais em geral. Sendo assim, podemos dizer que o exercício em dose baixa ou em dose alta demais é ruim para sistema imunológico, enquanto na dose certa é um aliado da imunidade.

- A prática de atividade física regular permite um melhor funcionamento dos diversos órgãos e tecidos, em especial do sistema cardiovascular, tanto a parte cardíaca quanto a respiratória. É importante ressaltar também que a prática de atividade física acaba diminuindo alguns distúrbios metabólicos, como a resistência insulínica, obesidade e diabetes, e é sabido que essas alterações metabólicas acabam sendo fatores de risco para Covid-19. Dessa forma, a prática de atividade física, além de permitir um funcionamento dos diversos sistemas, em especial o sistema cardiovascular e o sistema respiratório, previne uma série de distúrbios metabólicos, os quais acabam sendo um fator de risco para formas graves da Covid - explica o endocrinologista e médico do esporte.

Mas, afinal, de que forma a atividade física pode ajudar a prevenir esses agravamentos no quadro da Covid-19? Segundo Antônio Bandeira, os exercícios regulares funcionam para todo o corpo, não se direcionando especificamente para uma doença ou outra.

- Esse estudo publicado foi feito de forma retrospectiva e que se baseia também na própria autorreferência, ou seja, o indivíduo diz o quanto ele está fazendo de atividade física. O que vemos por ele é que o exercício regular provavelmente têm uma influência na resposta imune, principalmente na resposta de clareamento do vírus, mas é isso ainda é uma conjectura, uma inferência em relação aos dados do estudo - aponta o infectologista.

 

O melhor condicionamento e a vacinação

Ainda de acordo com o infectologista, o melhor condicionamento físico faz com que o sistema imune responda melhor, primeiramente, a todas as agressões, bem como para que ele esteja mais apto pra responder às vacinas. Não é possível afirmar que, na totalidade de pessoas que fazem atividade física, não haja aquelas que possam não responder bem à vacina; porém, essa possibilidade é muito inferior se comparada a pessoas que tem uma série de doenças. Afinal, a inatividade física leva a doenças, sendo esta uma das principais razões, por exemplo, do indivíduo ter diabetes, obesidade e hipertensão.

- O baixo nível de atividade física do indivíduo dificulta a manutenção índice de massa corporal (IMC) adequado do mesmo, bem como o processo de fazer o corpo consumir as gorduras de uma forma intensiva para que estas não se acumulem, fazendo com que o corpo se mantenha saudável. Então, o bom condicionamento físico é, sim um preventivo para doenças, as quais, secundariamente, fazem o corpo ficar mais frágil em relação a vários tipos de ameaça e também às respostas vacinais. Portanto, um corpo doente responde de uma forma muito pior quando ele é submetido a uma vacina, por exemplo - explica Antônio Bandeira.

 

A importância de se manter ativo

Seja em casa ou ao ar livre, manter-se ativo fisicamente neste momento de pandemia é fundamental — Foto: Istock Getty Images.

Provavelmente, não é uma grande novidade o fato de que se manter fisicamente ativo nesse momento é fundamental. Mas por quê? Primeiramente, é válido destacar que a atividade física não só modula o corpo, como também a mente, o sistema imunológico e o humor da pessoa. É sabido que o exercício mantém a mente mais ativa e lúcida e promove mais vontade das pessoas se manterem socialmente atuantes, além de reduzir as chances de incidência de diabetes e câncer, por exemplo, bem como controlar toda a parte cardiovascular do organismo.

É importante que, nesse momento, em que estamos mais confinados, com mais restrições de sair e de encontrar pessoas, possamos conseguir praticar algum tipo de atividade física, nem que seja dentro de casa, ao redor do quintal ou em um momento de saída para fazer uma pedalada ou uma atividade de corrida, por exemplo, lembrando sempre da importância do distanciamento social e do uso de máscara.

- Existe uma frase de Hipócrates, o pai da medicina moderna, dizendo que o melhor caminho para se buscar saúde é por meio de uma dieta e atividade física adequadas. Costumamos dizer também, na medicina, que se se existisse um medicamento que pudesse conferir todos os benefícios que o exercício traz em uma única pílula, certamente esse seria o medicamento mais vendido em todo o mundo. Então, é exatamente isso, o papel do exercício como tratamento e prevenção de uma série de doenças. Além do que, em um momento como esse, a prática física ajuda a manter a saúde mental - destaca Ricardo Oliveira.

Além do exercício físico, neste momento de pandemia, outros fatores são essenciais para conquistar resultados melhores para a saúde, como ter uma alimentação saudável e saber se prevenir. Comer frutas ricas em antioxidantes, optar por alimentos com pouca quantidade de gordura e fazer refeições balanceadas, mesclando os grupos alimentares, é a melhor escolha. Quem não pratica nenhuma atividade física deve começar o quanto antes, de forma consistente, podendo ser uma caminhada de 30 minutos por dia. Ao fazer isso pelo menos cinco vezes por semana, serão atingidos os 150 minutos semanais mínimos recomendados pela OMS. É importante lembrar que a atividade física não atua só no controle e manutenção do peso, como é aliada da saúde psicológica, cardiovascular e social.

- Além disso, o terceiro tripé, que eu acho fundamental neste momento, é saber se prevenir. A prevenção passa pelo uso de máscaras, higienização das mãos e, claro, se vacinar. Jamais questione as vacinas por meio de grupos de fake news que hoje têm se proposto a fazer um desserviço à nação. As vacinas são um avanço da humanidade, fazendo parte de um portfólio fabuloso que o conhecimento humano pode produzir. Então, a partir desse tripé, dando atenção à prática de atividade física, alimentação balanceada e prevenção, você terá uma vida mais saudável, protegendo-se de doenças e sendo, com certeza, mais feliz - conclui o infectologista Antônio Bandeira.



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