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Especialistas apontam erro humano como provável causa do apagão de WhatsApp, Facebook e Instagram

05/10/2021 - El País

“Você vai achar engraçado, mas fui afetado em quase 70% das minhas comunicações”, comentou nesta terça-feira um dentista que prefere não dar sua identidade a um engenheiro consultado por este jornal. “A partir dos 40 anos, ninguém liga mais, mandam uma foto e falam, olha como está o meu dente”, completa.

A queda total dos serviços de WhatsApp, Instagram, Facebook, Messenger e Oculus,de realidade virtual, por seis horas nesta segunda-feira causou incertezas e problemas de gravidade variada nas centenas de milhões de usuários cujas vidas e entretenimento dependem em certa medida da confiabilidade de seus aplicativos.

Os usuários sofreram uma interrupção em suas comunicações, mas também se levantou um desafio para os anunciantes e sua receita. Marc Elena, fundador da Adsmurai, um dos maiores gerentes de anúncios de Facebook e Instagram da Espanha, está pouco preocupado com o declínio. “A robustez do Facebook como plataforma pode suportar uma queda como essa, quase sem piscar”, diz ele. “Obviamente notamos a parada, mas é menos grave do que parece, porque no que resta até o final do ano há tanto estoque que é fácil recuperar a publicidade perdida. Seria diferente se tivesse caído, por exemplo, na Black Friday, mas um dia normal nos afeta menos do que parece“, acrescenta.

A explicação oficial do Facebook atribui o colapso a uma “mudança de configuração”. Este jornal consultou cinco especialistas da rede e todos concordam: é mais provável que tenha sido causado por erro humano. “Eu não gostaria de ser essa pessoa”, diz Joxean Koret, um especialista em segurança de computadores. “Provavelmente é um erro do último que subiu algo e trocou os pés pelas mãos. Em vez de mudar o que deveria, deve ter mudado outra coisa. E apertou enter”, completa.

Quando um usuário escreve facebook.com ou seu aplicativo deseja conferir novas histórias no Instagram, o celular procura os servidores da empresa. Embora o processo tenha alguma memória, ela é atualizada caso haja melhores rotas. E a certa altura, as placas nas estradas da internet que indicavam o caminho para o “Facebook” desapareceram. Assim, centenas de milhões de sinais de zumbis circularam na internet nesta segunda-feira, esperando que alguém esclarecesse como eles poderiam chegar à casa do facebook.com. Toda a rede foi atingida por congestionamentos e lentidão por esses zumbis.

“É como se eu quisesse ir à casa de um amigo que mora em outra cidade: procuro o endereço dele nas páginas amarelas e, assim que tenho o endereço, preciso pegar um mapa e encontrar o caminho mais conveniente”, explica Julien Gamba, pesquisador da Imdea Networks. E a rota não está em lugar nenhum.

Embora o Facebook não tenha dado mais detalhes, e de fora seja impossível saber a causa específica, o consenso externo é que o Facebook deixou de existir na internet por quase seis horas. “É mais provável um erro humano. Não acho que seja um ataque. Eles queriam mudar algo nas configurações e por engano mudaram muito ou atualizaram o software e alteraram a atualização para ele. Os motivos podem ser vários, mas a causa básica é o erro humano“, afirma Gamba.

É até plausível que o problema original fosse uma falha ao cortar o texto ou uma má escolha de uma instrução ou qualquer outra função. Para complicar ainda mais, o desastre não explode imediatamente quando você pressiona enter, mas se espalha lentamente pela rede, tornando mais difícil voltar para encontrar o local exato onde o erro está para corrigi-lo. “O engraçado é que não é instantâneo”, diz Gamba. “Quando você muda sua rota, as rotas anteriores são armazenadas por minutos ou horas e, quando expiram, é quando as novas [rotas] deveriam aparecer, e não estão lá. Talvez tenham mudado a configuração e demorado horas para algo acontecer e, nesse tempo, eles estavam em outras coisas“, acrescenta. É uma explosão de efeito retardado.

A possibilidade de um engenheiro do Facebook na Califórnia pressionar uma tecla e, inadvertidamente, explodir as redes de comunicação usadas por mais de 3 bilhões de seres humanos é alucinante. Não bastasse, a solução envolveu encontrar uma equipe de especialistas para conduzi-los até um data center que a empresa possui em Santa Clara, segundo o The New York Times. Em fevereiro de 2020, o Facebook alugou vários edifícios naquela cidade californiana, a pouco mais de 20 quilômetros de sua sede em Menlo Park. “Devido à separação de funções no Facebook, as pessoas que têm o conhecimento para consertar não são as que têm acesso físico. Tiveram de ir até lá“, explica Koret.

Um repórter do Times chegou a adiantar que o acesso ao espaço havia sido feito com serra, porque também haviam caído os sistemas de comunicação interna e o funcionamento de seus passes eletrônicos. Mas não foi assim. A dificuldade para acessar o prédio foi imposta pela segurança do edifício.

Qual a probabilidade de um drama como esse acontecer? Bastante alto, embora não em empresas do tamanho do Facebook. Os especialistas em rede não marcarão o dia em seu calendário como uma hecatombe especial. “Mesmo sem ser super frequente, é algo que vimos muitas vezes, embora não seja comum para uma empresa dessa magnitude”, diz David Barroso, fundador da CounterCraft.

A queda coloca os holofotes sobre o protocolo pouco conhecido que lida com rotas da Internet, chamado BGP (Border Gateway Protocol ou “gateway de fronteira”), que tem suas origens no início da Internet como um sistema há 50 anos. “Todos esses protocolos são dos anos setenta, oitenta. Temos sorte porque são robustos e evoluíram, mas são a base de toda a internet“, explica Barroso. “Eles não foram projetados para a internet de hoje e é muito difícil migrar para algo novo, por que como você faria o mundo tudo concordar? Todos esses protocolos são aceitos porque estão lá desde o início. Ainda restam muitos anos para esses protocolos, que apresentam problemas de segurança e estabilidade, para uma internet muito menor do que a de hoje. Não são perfeitos, mas não podemos reclamar“, acrescenta.



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