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Criando Novos Tempos: Os desafios do envelhecimento no Brasil e os novos idosos

15/04/2020 - Tellus

Envelhecer é um desafio pessoal. Diariamente, pessoas muito próximas de nós envelhecem. Nós envelhecemos. Convivemos com as transformações, desafios e necessidades de nossos pais, avós e tios, além dos nossos próprios. O texto de hoje reúne uma parte do diagnóstico produzido pela Agência Tellus para o projeto Criando Novos Tempos, em parceria com a Sanofi, além do podcast com Bruno Kunzler, consultor sênior do Tellus, para o InovaSocial. Confira abaixo!

Começando pelo Criando Novos Tempos. O projeto, iniciado em agosto de 2018, tinha como escopo e objetivo inicial criar ideias inovadoras a serem implementadas para a população idosa do Estado de São Paulo, tendo em vista a urgência e relevância deste tema para o país e o mundo. A etapa de exploração do projeto focou em sair a campo, observar, ouvir as pessoas e suas necessidades e anseios, tentando entender como o ecossistema funciona e quais seus principais desafios. Sistematizar os achados feitos nas entrevistas, oficinas, visitas e pesquisas de referência de maneira visual. Após ouvir 43 pessoas, 10 instituições, participar de 4 eventos e produzir uma oficina de escuta com idosos, identificamos os desafios e o cenário atual dos idosos brasileiros.

Vinte e dois anos em sessenta. Esse foi o ganho no nível de expectativa de vida mundial nas últimas seis décadas. Em 1950, a humanidade vivia em média 45 anos. Hoje, essa mesma média global chega a 72 anos. Um ganho de 22 anos – quase 50% de crescimento. As populações de quase todo o mundo estão se tornando mais velhas em uma velocidade nunca vista, criando um fenômeno populacional de dimensão única na história.

No geral, o aumento da expectativa de vida é visto como um fenômeno positivo. Um indicativo de crescimento econômico e desenvolvimento social. Mas uma mudança de tal tamanho afeta bruscamente – e às vezes abruptamente – a forma como importantes estruturas sociais operam. Ainda que a aceleração deste movimento seja um fenômeno novo, o movimento em si não o é. O processo de duplicação da quantidade de pessoas idosas – de 10% para 20% do total da população – demorou 61 anos para acontecer na Alemanha (1951 – 2012) e cerca de 64 anos para a Suécia (1947 – 2011).

No entanto, não foram todos os países, no entanto, que tiveram tantos anos para se adaptar. O mesmo processo de envelhecimento que demorou mais de meio século para acontecer em certos países europeus tomou o Japão em apenas 23 anos. Hoje, ele é o país mais idoso do mundo. E tenta ainda incluir essa população – com expectativa de vida de mais de 80 anos – nas diversas atividades da vida social cotidiana. No Brasil, o desafio é ainda maior. Somos o país que envelhece mais rápido em todo o mundo atualmente. Este é um cenário que levanta questões importantes:

  • O sistema de saúde público brasileiro está pronto para lidar com esse movimento?
  • E as políticas de trabalho e previdência existentes?
  • Existem serviços suficientes para atender a demanda crescente?

E com elas, uma fácil resposta: Não. Claramente, a sociedade brasileira não está preparada para lidar com seu próprio envelhecimento. Só para usarmos como exemplo, sem entrarmos em questões culturais, sociais e/ou políticas, de acordo com o site The Intercept Brasil, “faz mais de 25 anos que a desnutrição mata mais idosos do que crianças no Brasil, apontam dados do Datasus, um banco de dados do Sistema Único de Saúde alimentado com informações sobre doenças, epidemias e mortalidade. Pelo menos quase 5 mil pessoas com mais de 60 anos de idade morreram de fome em 2016, número que vem se repetindo há uma década – e não se falou disso até agora.”

A questão é ainda mais complexa. O estatuto do idoso define que a pessoa atinge essa condição aos 60 anos de idade. Mas classificar esta enorme quantidade de pessoas levando em consideração apenas o critério etário é insuficiente, pois a ausência de outros tipos de distinção empobrece a análise da situação e a criação de ações e políticas efetivas para esse público.

E o envelhecimento é extremamente individual. “Encontramos velhos e velhices de todos os tipos”, diria a socióloga Ruth Lopes. O acúmulo de experiências diferentes ao longo da vida cria seres únicos, com processos de envelhecimento também únicos. No podcast do InovaSocial, Bruno Kunzler, consultor sênior do Tellus, explicou um pouco mais desta complexidade sobre estes perfis. A grande verdade é que, se existe uma frase que resume bem o que é envelhecer, é a da escritora Madeleine L’Engle: “A grande coisa de envelhecer é que você nunca perde todas as idades que já teve”. E com essas idades fica um acumulado das experiências que se vive, sejam elas boas ou ruins.



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